Dança do ventre dá barriga?
NÃO!! Dança do Ventre não dá barriga. Muito pelo contrário! Ela trabalha bastante a musculatura abdominal enrijecendo-a. Além disso, é uma atividade aeróbica que queima muitas calorias e pode até fazer emagrecer dependendo, é claro, da freqüência e intensidade das aulas. Também melhora a postura corporal distribuindo de maneira mais correta o peso e mudando as curvas do corpo.
Esse mito de que a dança do ventre dá barriga pode ter vindo do padrão de beleza do povo árabe, onde surgiu essa dança. Eles gostam de mulheres mais "cheinhas", como nos conta o estudioso Shokry Mohamed.
O homem oriental prefere as bailarinas grossas. Não gosta de encontrar uma bailarina delicada. Além disso, prefere bailarinas com o corpo robusto, forte. Ao contrário é o espectador europeu e americano, incluindo o brasileiro. Por estarem mais próximos dos ideais estéticos ligados ao ballet, preferem as bailarinas com corpo esbelto, magras e definidas. Mas, com certeza, os movimentos da dança do ventre estão mais de acordo com um corpo, não obeso, mas digamos... "cheinho".
Isso não quer dizer que mulheres magrinhas não podem ou não conseguem dançar. Todas nós podemos e devemos experimentar essa dança que é só nossa.
Homem pode praticar essa dança ?
Antigamente, a dança era utilizada para teatralizar as coisas da vida como a caça, pesca, trabalho na lavoura, os animais e os fenômenos da natureza como a chuva, o mar, as plantas... Essa era a época do matriarcado em que a mulher tinha um grande poder e era extremamente respeitada. Isso acontecia porque, naquela época, as pessoas viviam dos bens vindos da terra e acreditavam em vários deuses. Um deles era a deusa da fertilidade, uma das mais reverenciadas pois representava a fertilidade da terra e da mulher. Portanto, quem reverenciava essa deusa eram somente as mulheres, somente elas.
"A mulher, assim como a terra, recebe, gera, dá vida e a nutri. É muito lógico e simples. A mulher desse período do matriarcado reverenciava a terra e a deusa, que era a mãe terra."
Portanto, segundo a origem da dança, somente mulheres dançavam.
Éuma questão muito polêmica. A liberdade artística existe e não podemos proibir alguém de executar determinado movimento. Além disso, os movimentos dessa dança são excelentes para trabalhar a região abdominal sendo indicados por médicos aos seus pacientes.
Eu, assim como muitas outras bailarinas, acredito que essa dança é feminina. Quem a dança percebe. Seus movimentos são sensuais, delicados, meigos. Não fazem parte do corpo nem da natureza masculina. Além disso, o homem não tem ventre, não recebe, não gera, não dá e nem nutri a vida.
Um homem pode aprender os movimentos da dança, (aliás, muitos têm mais facilidade do que as mulheres para executar alguns movimentos) mas isso não quer dizer que esteja dançando. Dançar é mais do que uma simples execução de movimentos.
Um pouquinho de história
A Dança do Ventre surgiu dos cultos à deusa da fertilidade feito pelas mulheres na antiguidade. Naquela época, a realidade se conectava harmoniosamente com o sagrado e, por meio da dança, expressava-se a natureza do ser e, também, as mais profundas emoções.
Como todas as sociedades antigas viviam da terra e a mulher procriava assim como a terra, ela tinha um grande poder ocupando altas posições sociais pois assegurava as bases para a sobrevivência. Nessa época de matriarcado, a dança era de extrema importância pois simbolizava as coisas da vida e a harmonia como divino. As mulheres dançavam procurando receber a força da Grande Mãe. E, simbolizando um agradecimento à fertilidade, tanto à terra como à mulher. Isto é, simbolizando um agradecimento à vida.
Era uma dança sensual com movimentos circulares e marcantes na região do quadril e pélvica e ondulatórios na região do ventre, regiões do corpo feminino relacionadas à vida. Com o passar do tempo, o homem foi se afastando da natureza assim como da figura poderosa da mulher. O poder passou a ser do homem e a sociedade passou a ser patriarcal e não mais matriarcal como era antes.
" Onde o patriarcado estabelece lei, o matriarcado estabelece costume; onde o patriarcado estabelece o poder militar, o matriarcado estabelece autoridade religiosa; onde o patriarcado encoraja a aresteia do guerreiro individual, o matriarcado encoraja a coesão do coletivo, algo que tem haver com tradição."
Essas mudanças aconteceram juntamente com a chegada das religiões monoteístas, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo que criaram deus como um ser masculino.
Juntamente com essa mudança de pensamento em relação à vida, ao poder, à maneira de enxergar e fazer as coisas, veio uma mudança no jeito de se ver a dança. Ela não é mais realizada nem considerada de maneira sagrada. No mundo árabe, as bailarinas que resolveram continuar dançando tiveram que enfrentar o preconceito e, a maioria delas, se prostituir. Por isso são tão mau vistas pela sociedade. Não tem como se tornar uma grande bailarina se não passar por uma vida difícil de garota de programa. Portanto, não existe a profissão de bailarina. Ser bailarina é sinônimo de ser prostituta e, para os árabes, as prostitutas dançam para aprimorar sua profissão. As mulheres que querem dançar são expulsas de casa e bailarinas que vêm de outro países dançar nos países árabes são vistas da mesma maneira. Apesar disso, tanto as mulheres egípcias como as árabes em geral dançam em festas e comemorações familiares por ser um costume passado de geração para geração.
O casamento é uma das festas que nos mostra a importância da dança nesses acontecimentos. Não existe casamento sem a bailarina e seu grupo que participam de todos os momentos da festa. Até hoje, a bailarina entra na festa na frente dos noivos; estes se sentam em cadeiras enfeitadas simbolicamente para eles. A bailarina dança e no fim da música ela fica entre os noivos. O noivo põe a mão no ventre da bailarina e a bailarina põe a mão no ventre da noiva. Os dois unem-se no ventre da bailarina. E ela, neste momento, simboliza toda fertilidade do mundo.
Nas ruas, fora das casas e das tradições, as bailarinas continuaram a existir. Não dançam mais para a deusa pois não existe mais deusa. Muitas vezes o governo egípcio teve que interferir nos shows proibindo-os, expulsando as bailarinas do país... a última restrição, que permanece até hoje para que a dança possa continuar no país, é que se dance com o ventre coberto, mesmo que o tecido seja transparente.
Em 1930, mais ou menos, começam a aparecer os filmes Hollywoodianos. Os homens vão ao Egito em busca de bailarinas. Elas vão para os EUA e fazem seus shows para o cinema. Têm que se moldar aos gostos americanos. Assim, a dança começa a se ocidentalizar, a adquirir as características que estamos acostumados a ver hoje e a chegar até nós.
No Brasil a Dança do Ventre chegou na década de 20 mais ou menos. Não existem registros precisos. As poucas mulheres interessadas conheceram a dança através das colônias árabes que chegaram ao Brasil nessa época. Assistiam a filmes, treinavam sozinhas, trocavam experiências e assim foram aprimorando e nos trouxeram a qualidade de dança que temos hoje. O centro da melhor dança do país está em São Paulo; as grandes bailarinas do país estão aqui.
Pra quem quer praticar a dança do ventre
Não ache que vai fazer 3 meses de dança e vai estar dançando. Nosso corpo demora a se acostumar com os movimentos diferentes. Devemos respeitar esse tempo e aprender a sentir a dança, a dançar com a alma. Não só executar os movimentos. Isso todos podem fazer bem rápido. Aprender a DANÇAR demora um pouco mais... Para ser bailarina tem que suar bastante.
E-mail: clautrevisan@bol.com.br