Suplementos alimentares estão se transformando em um item tão comum na mochila de ginás-tica, quanto tênis e roupas esportivas. Em forma de gel, pílulas e bebidas, esses produtos ago-ra são ingeridos não só em casa, mas em academias e parques. São vários produtos e recei-tas, todos para atingir o mesmo objetivo: mais músculos, menos gordura e mais disposição. Mas uma pesquisa inédita feita pela Universidade de São Paulo ( USP ) mostra que uma das vedetes, os aminoácidos, não é tão boa quanto os consumidores apregoam. O estudo mostrou que muitas pessoas estão gastando dinheiro à toa: essas substâncias não provocam o aumen-to da massa muscular e não promovem o crescimento se não forem aliadas a tratamento adequado.

O advogado Seridião Montenegro, 30 anos, também se rendeu ao uso dos complementos. Três comprimidos de um estimulante antes do treino, uma colher de aminoácido antes de dor-mir, três comprimidos de creatina antes e depois dos exercícios. Para esse arsenal, ele gasta a cada dois meses R$ 400,00. Tudo isso, recomendado por amigos. "Nunca procurei um médico; muita gente diz que é dinheiro jogado fora, mas acredito que isso não vai fazer mal."

Especialistas, porém, não tem o mesmo entusiasmo. A nutricionista do Pão de Açúcar Club, Patrícia Lopes de Campos, há alguns anos estuda os efeitos de aminoácidos complexos no organismo. Uma das pesquisas com ratos feitas por ela na USP mostrou que o uso de aminoá-cidos, acompanhado de atividade física, causa o aumento do teor de glicose, o que pode me-lhorar a disposição. Mas a simples ingestão do produto não provocou o aumento da massa muscular.

A pesquisadora também testou os efeitos dos aminoácidos em esportistas: " Notamos que atle-tas que usaram aminoácidos se sentiram menos cansados do que os que não usaram, mas não houve melhora no desempenho." Apesar da aparente vantagem do grupo que usa aminoá-cidos, a nutricionista adverte que a segurança do complemento ainda não está aprovada. Para Patrícia, pessoas que praticam diariamente exercícios não necessitam do??s complemen-tos: " Há uma recomendação, assim mesmo restrita, para atletas profissionais, que treinam várias horas por dia e muitas vezes não têm nem mesmo tempo para comer e repor toda a e-nergia gasta."

Excessos - O chefe do Laboratório de Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farma-cêuticas da USP, Julio Tirapengui, concorda: " Alguns autores começam a citar casos de paci-entes com problemas renais provavelmente provocados pelo uso indiscriminado de creatina. Acredita- se que o excesso de aminoácidos também provoque uma sobrecarga nos rins." Apesar dos avisos feitos por especialistas, o número de pessoas que recorre a um médico ou a um nutricionista para informar- se sobre a eficácia e os riscos dos complementos é desprezível. Segundo a médica Regina Santana, da Academia Fórmula de São Paulo, são poucos os alu-nos que a procuram: " O mais comum é a autoprescrição; poucos querem ouvir que os com-plementos não são totalmente seguros."

FONTE: LÍGIA FORMENTI - O ESTADO DE SÃO PAULO